quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Derretido...





"Derretido na Mandioca"

Um prato sem nome...

Lembro-me de experimentar quando criança aquilo que parecia ser um "derretidão" sobre uma "tábua redonda" que ia a mesa. As pessoas pediam e compartilhavam aquele prato exótico e exuberante, tendo a mão apenas um garfo individualmente.
Conversavam, bebiam e no intervalo "tascavam" uma garfada. Pimenta e azeite eram acrescentados à medida de cada um.

Este local funcionou, mais ou menos, pelas minhas lembranças e por relatos de moradores e freqüentadores do local, dos anos 50 até meados dos anos 80. Ficava em Cândido Mota, SP, cidade onde nasci e vivi até quase a pré-adolescência.

As pessoas vinham de longe para comer a iguaria do “Dito”, apelido do proprietário (o nome eu nunca soube).

Retornando a cidade a passeio em 2004, me lembrei do prato e comecei a procurar algum local que o fizesse. Não havia. O “Dito” não se encontrava mais na cidade e, pelo que diziam, nem neste mundo. Acabei localizando o cozinheiro do local na época, que me disse que o prato era “invenção” dele. Chamava-se João. Não quis me dar a receita a princípio, porém quando disse a ele que era proprietário de um bar, se animou e aceitou viajar até São Paulo. Passou três dias na capital, ensinando o pessoal de minha cozinha a preparar o “Derretidão”. Eu chamava o prato assim, pois segundo o próprio João, nenhum nome lhe havia sido atribuído até então.

Resolvi colocar o prato no cardápio, já em 2005.

Adaptei o modo de servir, para não chocar muito os clientes paulistanos, oferecendo o conjunto da Mandioca Derretida na Manteiga (quase um purê) ao lado da Ponta de Peito de Costela Bovina, desfiada e regada ao azeite coberta com lâminas de alho, em uma forma de barro.
Pratos individuais finalizam o serviço. O nome, por sugestão de um funcionário na época, ficou “Derretido na Mandioca”.

O sabor é único e inexplicável, sem exageros. 

Sim é rústico, nada mais rústico do que Costela Bovina e Mandioca, porém a mistura se torna suave e agradável.

O local escolhido para incorporá-lo ao cardápio, não era o mais adequado, pois se tratava de um “Pub” cujo forte não era a cozinha.

Acabou por ficar em “stand by”. Recebi por intermédio de minha mãe, que reside próximo a Cândido Mota, a notícia do falecimento do João. Imaginei que esta deliciosa iguaria não poderia mais ficar sem ser apreciada. Iniciei a busca por um ponto, onde pudesse reproduzir o ambiente adequado para servi-lo.

Encontrei neste ano de 2009 uma esquina que tinha todo o potencial e após três meses de reforma conseguimos criar um ambiente de boteco nos anos 50. Muita história na decoração e um clima perfeito para o prato poder ser finalmente apreciado.

Esta é a história do Derretido na Mandioca e do Bar construído a sua volta.

Cassius Gastão Motta

BARBARIDADE – Boteco & Rango 

Ficha Técnica: 
Receita única e mantida em sigilo pelo cozinheiro. Resgatada do cardápio de antigo botequim do interior de São Paulo, é preparado com Carne de Ponta de Costela Bovina cozida e desfiada. Acompanhada de Mandioca Amarela Derretida, regados ao azeite e lâminas de alho.

Servido em prato de barro vai bem acompanhado de um bom papo com os amigos.